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Eleita melhor do mundo cinco vezes em votação da Fifa, Marta está novamente entre as finalistas de 2014 |
Campeonatos bem organizados são realidade apenas no eixo Rio-São Paulo
superesportes.com.br
O futebol feminino ainda engatinha no Brasil, apesar do sucesso mundial
de sua maior estrela. Ao mesmo tempo em que o país festeja Marta,
considerada uma das melhores do mundo, o esporte não evoluiu nos
gramados tupiniquins, mesmo com a tentativa da Confederação Brasileira
de Futebol em organizar a modalidade, promovendo duas competições: a
Copa do Brasil (com 32 times, vai de 4 de fevereiro a 8 de abril) e o
Campeonato Brasileiro, de 9 de setembro a 8 de novembro. Minas Gerais é
um retrato do que ocorre no restante do país, convivendo, praticamente,
com o abandono, por causa da falta de parceiros para bancar as equipes.
O
Campeonato Mineiro, por exemplo, tem apenas seis equipes, nenhuma delas
profissional. Os grandes clubes do masculino, Atlético, América e
Cruzeiro, não participam. O primeiro competia na modalidade até 2012,
quando o time foi dissolvido. Segundo informações da assessoria de
imprensa do clube, o grande problema foi a falta de recursos para bancar
a equipe. Essa é também a posição do Cruzeiro. O presidente Gilvan de
Pinho Tavares afirma que nem sequer chegou a pensar na possibilidade de
manter um time.
O atual campeão mineiro é o Santa Cruz, da Zona
Leste de BH, time que joga na várzea. Ano passado, conquistou também a
Taça BH e a Copa Centenário. São 36 atletas, entre 11 e 35 anos, todas
jogando na categoria adulto. Bárbara Fonseca é a responsável pela
equipe, uma espécie de faz-tudo – cuida das viagens, dos treinos, da
alimentação e do transporte. Escrivã de polícia lotada na Delegacia de
Furtos de Veículos, na Barroca, Bárbara conta que o time não recebe
qualquer ajuda: “Os custos de treinos, viagens, materiais etc. são
custeados pelos integrantes da comissão técnica, que está junta desde
janeiro de 2014. A gente faz tentativas desesperadas, solicitando
patrocínio ou uma ajuda do empresariado mineiro, mas ainda não tivemos
êxito”.
Nenhuma jogadora tem salário ou recebe ajuda de custo,
como vale-transporte. “Fazemos tudo por amor”, diz Bárbara. A única
ajuda é para a Copa do Brasil, com a CBF disponibilizando R$ 5 mil para
cada equipe nas partidas fora de casa. “Nas partidas aqui, nós é que
temos de bancar. Nossa estreia na Copa do Brasil será contra o Duque de
Caxias, no Campo do Vasco, no Rio. Para as partidas como mandante,
indicamos a Arena do Jacaré, mas lá tem de pagar aluguel e não temos
como fazê-lo. Estamos tentando a cessão do estádio, caso contrário,
teremos problema, pois a CBF exige um campo com um mínimo de 10 mil
lugares. Não temos outro lugar.”
FUTSAL A
situação das jogadoras que estão fora do eixo Rio-São Paulo é bastante
complicada. Muitas se mantêm em atividade migrando para o futsal.
Rosana, integrante da Seleção Brasileira na campanha das duas medalhas
de prata olímpicas e no ouro e na prata dos Jogos Pan-Americanos, viveu
essa situação. “Quando não tinha jeito, não tinha time, ia jogar no
futsal. É garantido, pois há competições com maior regularidade.”
Apesar
dos problemas, o Brasil tem uma seleção considerada forte. O atual
técnico, Oswaldo Alvarez, o Vadão, acredita que o Brasil evoluiu
bastante, principalmente no lado tático, mas vê um grande problema: “Não
se joga futebol feminino nas escolas. São poucas as escolinhas. O
crescimento nos outros países é muito maior do que o nosso. Evoluímos
dentro do campo, mas e quando perdermos essa geração de hoje? Não
teremos reposição”.
Um dos problemas é que muitas jogadoras vão
para o exterior, casos de Rosana, Cristiane e Marta, três dos principais
nomes do esporte no país. Mas ele espera que esse problema seja
amenizado com a criação da seleção permanente, com as jogadoras sendo
convocadas com mais frequência.
Em dezembro, a Seleção Brasileira
se reuniu pela última vez e conquistou o pentacampeonato do Torneio
Internacional de Brasília, ganhando de Argentina e China e empatando com
os EUA. A próxima convocação será no fim de fevereiro, para a Algarve
Cup, em Portugal. Depois, se reunirá em maio para a preparação e disputa
da Copa do Mundo, de 6 de junho a 5 de julho, no Canadá.
Personagem da notíciaMarta, 28 anos, jogadora de futebol
De empregada doméstica a craqueO
grande nome do futebol feminino brasileiro é o da armadora e atacante
Marta. Com 73 jogos pela Seleção no currículo e 82 gols, ela defendeu,
profissionalmente, apenas três clubes no Brasil: o carioca Vasco, o
mineiro Santa Cruz e o paulista Santos. Nos EUA, atuou no Los Angeles
Sol, FC Gold Pride e Western New York Flash. Na Suécia, no Umea, no
Tyreso e, agora, defende o Rosengard. Marta começou a carreira em
Contagem. Empregada doméstica, aproveitava a folga para jogar no Adesc,
que tinha uma equipe feminina de futsal. Foi campeã metropolitana e
mineira, sendo que, defendendo a equipe da cidade, registrou o recorde
mundial de gols numa só partida no futsal feminino (14), na vitória
por 14 a 3 sobre o Cruzeiro, no Ginásio do Barro Preto, no fim da década
de 1990. As façanhas de Marta nas quadras logo a levaram para um time
de futebol de várzea, o Frigoarnaldo, onde ficou por quase três anos. De
lá, conseguiu seu primeiro contrato profissional no Vasco, e, então,
ganhou o mundo. Eleita cinco vezes a melhor jogadora do planeta na
eleição da Fifa, amanhã ela estará novamente na cerimônia de premiação,
pronta para emplacar a sexta.
Linha do tempo1898 – Primeiro jogo de futebol feminino no mundo: Inglaterra x Escócia
1908 – Primeira vez que uma mulher joga futebol no Brasil, em partida beneficente, mista, no Rio
1921 – Primeiro jogo feminino oficial no Brasil, duelo entre os bairros Tremembé e Cantareira, de São Paulo
1941 – Lei Estado Novo proíbe a prática de “esportes incompatíveis com a natureza feminina”
1979 – Lei de 1941 é revogada
1982 – São criados os primeiros times femininos no Brasil: o carioca Radar e o paulista Saad
1988
– Primeira convocação para a Seleção Brasileira, com 16 jogadoras do
Radar, para o Women’s Cup of Spain. Conquista do primeiro título
internacional, vencendo França, Portugal e Espanha
1991 – Fifa organiza o 1º Campeonato Mundial Feminino, vencido pelos EUA
2003 – Brasil fica com a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo (foto), na República Dominicana
2004 – Seleção Brasileira leva a prata nos Jogos Olímpicos de Atenas
2006 – Marta é eleita, pela Fifa, a melhor do mundo. Ela voltaria a vencer a eleição em 2007, 2008, 2009 e 2010
2007 – Brasil é ouro no Pan do Rio e fica com a medalha de prata no Mundial da China
2008 – Seleção Brasileira conquista a medalha de prata na Olimpíada de Pequim